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Luvualu de Carvalho e João Soares na RTP: os temas que aqueceram o debate sobre Angola.
No 360 da RTP3, Angola esteve em destaque. Frente a frente, o ex-ministro João Soares e o embaixador itinerante de angola abordam temas quentes como a democracia e a falta de parcialidade nas eleições, num verdadeiro confronto entre duas visões completamente distintas da realidade angolana. Duas personalidades com percursos distintos e pontos de vista diferentes sobre a realidade angolana. Na RTP3, João Soares e o embaixador angolano António Luvualu de Carvalho debateram durante 60 minutos a atual situação angolana. Em análise estiveram ainda partes da história recente da ex-colónia portuguesa. Um confronto, moderado pela jornalista Ana Lourenço, do qual sobressaem pontos de vista muito diferentes. O debate ocorre depois de ter sido divulgada uma análise da Human Rights Watch muito crítica para o governo de Luanda. A organização acusa Angola de ter falhado a promessa de melhorar direitos humanos, de aumentar o respeito pela liberdade de expressão e pelo direito de associação no país. A imagem de Luanda surge ainda manchada por casos recentes como o de Luaty Beirão. Tudo temas abordados numa conversa que fica ainda marcado por um desafio feito por João Soares a José Eduardo dos Santos: o de abandonar efetivamente o poder. É um convite recorrente do antigo governante português ao longo da quase uma hora de debate sobre os temas que marcam a atualidade em Angola. Desigualdade O ex-ministro da Cultura considera que o respeito pelos direitos humanos em Angola está "aquém dos mínimos essenciais". João Soares sustenta mesmo que Angola “é um dos países mais desiguais do mundo” com diferenças “absolutamente abissais”. No entendimento do ex-governante português, o Governo de Luanda optou muitas vezes por colocar o capital nas mãos erradas “em vez de investir em hospitais”. A situação sanitária é uma das preocupações enumeradas por João Soares, que destaca os elevados valores da mortalidade materna e mortalidade infantil. Quando confrontado com o recente surto de febre amarela no país, Luvualu de Carvalho reconhece que "vão existindo alguns problemas de saneamento básico", sobretudo nas regiões periféricas das cidades. "Não estou a dizer que Angola é um país maravilhoso. Reconhecemos e aceitamos os nossos problemas", refere o embaixador. "Massacres" e "perseguições" Apesar de reconhecer alguns “sinais positivos”, nomeadamente a realização de eleições e de um recenseamento num futuro próximo, João Soares lembra os "massacres" e "perseguições" recentes, levadas a cabo pelo regime de Luanda, acusações perentoriamente rejeitadas pelo embaixador itinerante. No caso de Rafael Marques, o responsável angolano descarta qualquer influência de José Eduardo dos Santos no processo e esclarece que o jornalista foi “processado por um grupo de generais que ele caluniou, ele próprio reconheceu em tribunal” e que este é mais um dos mitos que rodeiam a política em Angola. Luvualu lembra situação portuguesa Os assuntos de cariz humanitário foram, aliás, um dos pratos fortes do debate, também no sentido inverso. Depois de elencar várias melhorias nos índices de mortalidade e escolaridade desde o fim da guerra civil, em 2002, o embaixador lembra mesmo as dificuldades sociais que Portugal também atravessa. “Em Angola basta haver uma questão mínima. A situação social em Portugal também não é das melhores, Portugal é um país extremamente desigual, mas ninguém faz disso motivo de chacota”, refere o embaixador. Direitos Humanos A organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch acusa Angola de ter falhado a promessa de melhorar direitos humanos, de aumentar o respeito pela liberdade de expressão e pelo direito de associação no país. Numa análise à realidade angolana, a ONG denuncia ainda vários casos de uso de força excessiva e de detenções arbitrárias por parte das autoridades. O embaixador itinerante de Angola diz respeitar este relatório mas pede a este tipo de organizações que “informem com verdade”. “Não conheço os fundamentos desse estudo quando fala de limitações de liberdades. O Governo da República de Angola é quem mais quer que haja liberdade”, garante, exemplificando com o “fomento das redes de comunicação social” e promoção da educação. “Não subscrevo nada do que é dito neste relatório”, insiste o representante angolano. Luanda e Lisboa: "uma paixão mórbida" António Luvualu de Carvalho refere em várias ocasiões a existência de “mitos” criados à volta de Angola, sobretudo na imprensa portuguesa. O embaixador identifica uma “paixão por vezes mórbida” dos jornais em Portugal com alguns assuntos da ordem do dia no antigo território colonial. “Porque é que quando alguma coisa acontece com Angola existe um estardalhaço e um brua na comunicação social?”, questiona o embaixador, dando o exemplo concreto do Congresso do MPLA, que teve “mais cobertura que outros congressos” de outros países. João Soares explica mais tarde que essa abordagem se deve apenas a uma preocupação existente em Portugal sobre a ausência de um regime democrático em Luanda. “Não há nenhum país democrático onde alguém esteja no poder em resultado de eleições livres e justas durante 37 anos”, completa. Mas a questão da longevidade não é válida para o embaixador: Luvualu de Carvalho recusa quaisquer críticas de falta de diálogo ou de troca de ideias no seio do MPLA. Tal como nas questões sociais, Luvualu de Carvalho vai buscar exemplos portugueses e lembra que a existência de um único candidato à liderança do partido não é exclusivo de Angola. O representante angolano sublinha mesmo os casos de Catarina Martins e Pedro Passos Coelho, que renovaram recentemente a liderança das respetivas máquinas partidárias, alcançando uma maioria considerável: “Ninguém escreveu um artigo a dizer que Pedro Passos Coelho era o Kim-il-sung de Portugal”, ataca. Dependência do petróleo O ex-ministro João Soares acusa Luanda de viver "pendurada nas receitas do petróleo e dos recursos naturais" que não aposta na agricultura. O socialista considera esta uma situação "absoluta lamentável". "Angola tem todas as condições para produzir tudo o que precisa para o seu povo comer e não ter fome", afirma o ex-governante português, acusando Luanda de estar excessivamente dependente de importações. Em resposta a Soares, o representante de Luanda recorda que "Angola teve de reconstruir o seu país totalmente", apontando ainda o facto de o território angolano ter sido minado durante a guerra. "Não sei como é que queria que fizéssemos lá agricultura", afirma. Luvualu de Carvalho responde ainda às críticas de Soares quanto às relações de Luanda com Pequim. "Angola solicitou uma conferência internacional de doadores que não foi atendida aqui em Bruxelas", afirma. "A União Europeia não quis ajudar Angola. A República Popular da China ajudou Angola, nós agradecemos, e com eles crescemos e desenvolvemo-nos", garante. Imprensa livre? João Soares considera que não há "pluralismo de informação" em Angola, classificando o Jornal de Angola de “contrário de um exemplo de isenção". Luvualu de Carvalho classifica o trabalho de Jornal de Angola de "bom", admitindo que "há quem goste, há quem não goste". Soares fala ainda ainda de uma imprensa "folha de couve", justificando a expressão pela fraca tiragem", mas classificando-a de "corajosa" pelo trabalho realizado. "Espero que os editores dos jornais privados que o dr. João Soares chamou de 'folhas de couve' estejam de facto a ver este programa e que depois o elogiem como o têm feito", responde o embaixador itinerante. Luvualu afirma ainda que "muitos dos jornais que existem em Angola" não "durariam um dia" em Portugal. "Pela falta de profissionalismo, falta de ética e pelas acusações sem sentido que fazem", justifica. O representante do Governo angolano refere ainda a aposta de Luanda nas novas tecnologias e no acesso à internet. "Contrariando essa tese que não existe liberdade de expressão e que o Governo da República de Angola não quer promover a abertura", conclui. Investimento angolano em Portugal A aposta de investidores angolanos em Portugal esteve em destaque no debate da RTP3. Luvualu de Carvalho defende que há empresários que "não representam o Estado angolano", agindo em nome individual. Confrontado por João Soares por investimentos feitos por Isabel dos Santos, o embaixador lamenta que João Soares fale "como se o dinheiro angolano fosse asqueroso ou tivesse lepra", classificando de "normal" os investimentos da filha do Presidente. O representante de Luanda fala ainda da presença de milhares de portugueses que também fazem parte da "elite" de Luanda. Mais Noticias Clica nos Títulos Abaixo
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