Igreja na Jamba em 2005,não sei se tratará da mesma que o autor se refere,mas tomei a liberdade de escolher esta foto,por ser da Jamba e ter sido a única que encontrei em pesquisa que fiz.... A Missão Quando nos dirigíamos de Jamba a Vila Artur de Paiva também Vila da Ponte deparávamo-nos á esquerda com uma estrada bem cuidada que nos levava a uma Missão. Era então conhecida pela Missão do Padre Martinho, um Sacerdote Católico de origem holandesa que de há muitos anos se tinha radicado em Angola onde não só pregava a sua doutrina como a exercia em proveito das crianças abandonadas ou órfãs com um outro Padre mas espanhol de nome António e várias Irmãs freiras e leigos lhes tratavam da alma e do corpo não só enfermo mas necessitado de alimento e instrução. Eu creio que tinha á volta de cem crianças de ambos os sexos. Eram duas boas almas mas o padre fundador tinha um cariz especial no contacto e na sua pronuncia que nos fazia gerar uma grande empatia. Eu e minha família éramos bem aceites na sua casa pois que necessidades de saúde que eu lhes pudesse resolver era consultado e tinha mão livre para actuar pois aos domingos o P. Martinho ia á Jamba e não sei se Tchamutete para celebrar a comunhão dominical e sempre nos encontrávamos e falávamos não só porque eu era assistente àquela celebração como também ensaiava e cantava com o coro da Capela. Além do mais o próprio Martinho também necessitava muito dos meus cuidados pois era padecente de uma doença que em Angola grassava muito e ainda hoje, a tuberculose. Era um homem que trazia consigo sempre a sua espingarda e conta-se que um dia, ele confirmou-mo mas sem delongas, celebrando numa capela de sanzala avistou ao fundo um animal de grande porte. Então, interrompe a missa, despe alguma da sua indumentária de Celebrante, mata o animal e oferece-o àquela comunidade. Era um homem dotado de bom coração, grande capacidade de trabalho e sacrifício e que fazia tudo para os outros além de ter um cultura fascinante colheu, diziam, uma formatura em Arquitectura ou Engenharia que o colocava em boa posição de técnico. Então, além do edifício de construção simples onde acolhia os seus protegidos ele mostrava os seus dotes de arquitectura em vários temas. Tinha numa corrente de água que atravessava os seus terrenos uma pequena central geradora de electricidade entre outras coisas. Mas o que mais valor visível deu àquele Homem foi o projecto e construção de uma autentica Catedral desenhada e de construção orientada por ele que quer na arquitectura da construção quer paisagística dava um ar belo e majestoso àquela obra feita em tijolo vermelho de alto abaixo e deixado na sua cor natural bem como nos vitrais que também se dizia de sua escolha que formavam um conjunto deslumbrante e feliz. Bem iluminada naturalmente era possuída de um ambiente sonoro que não distorcia os sons emanados pelo coro e som de órgão, onde eu fazia sempre que lá ia soar alguma melodia por vezes profana até, mas sim os congregava numa acústica digna do Catedral. Os bancos eram corridos e de madeira forte e cada um dotado de um genuflexório á maneira das grandes Catedrais Eu voltei há poucos anos á Jamba e não quis deixar de procurar essa Missão que tanto me impressionou. E o termo procurar é propositado pois nem os entendidos naqueles caminhos conseguiram adivinhar a estrada, agora picada “invisível”, que nos levaria lá não sem ter de andar-mos á procura por mais de uma manobra mas mesmo assim não o conseguindo não fosse a ajuda de um viandante que pertenceria aquela zona e que nos acompanhou. E lá estava imponente a Catedral mas com a tristeza não só do abandono mas também de alguma destruição, emoldurada não de terreno cuidado mas de extenso e bem crescido capinzal. Entrámos. Pelos vidros ausentes das portas os pardais entraram, saíram e deixaram apenas as suas marcas costumeiras sem lhes importar que ali foi casa de Oração. Os bancos insensíveis á nossa presença lá estavam alinhados mas sem marcas de quem os usasse há muito, muito tempo. A Pia Batismal lá permanecia mas semi-destruída. O órgão mostrava ainda as suas teclas amarelecidas e desalinhadas como se fossem os dentes de um Adamastor desalinhados e amarelecidos pelas tempestades. Tentei extrair-lhe um som, um gemido mas a sua alma tinha-o abandonado. Então eu arrepiado e nostálgico e com algum outro sentimento puxo da minha voz não atraente e desalinhada um canto de -Te Deum laudamos / Te Dominum confitemur / Te eternum Patri / omnis terra veneratur /Tibi omnes Angeli,Tibi querubim et Serafim / Incessabile voce proclamant, que ecoou por toda a Catedral como em tempos idos, E não sei se alguma lágrima me molhou a face pois meus colegas olharam-me duma maneira de surpreendidos mas respeitaram o meu sentir, Obrigado e tenho isso gravado para memória,,, Ao fundo e por traz do altar - mor e pregado ainda na parede, o Cristo que era o mesmo que eu conheci numa escultura rústica de sanzala para quem ainda tive tempo de dizer que se eu fosse ele teria já abandonado aquele lugar e ido embora dali, e disse-lho em alta voz mas Ele desinteressado nem me ouviu ou fingiu não ouvir como se lá para Ele pensasse aqui sinto-me bem melhor que no Calvário entre os homens… Talvez! Não tive mais palavras, memorizei uma prece pelo seu Fundador e lá fomos até Vila da Ponte para assistir a mais uma decepção. De - Augusto Rebola AVISO-Estes escritos estão registados e protegidos pelo IGAC |
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