A LONGA NHIA Já falei no palmar. Já falei do rio, Mas ainda merece mais uma crónica esta terra. Distante de tudo e de todos, encaixada lá para os confins por vezes inacessíveis do Dondo, pertencendo a uma circunscrição administrativa chamada Capôlo, era um jardim de palmeiras ordenadamente plantadas com o fim de colher o démdém, além de formosas hortas e pomares, belas extensões de lagoas e alguns muito charcos onde coexistia quase toda e espécie de bicharada dentro e fora de água. As frutas eram tão dotadas que as laranjas e as mangas nos deixavam nas mãos um melaço forte do açúcar que continham que nos obrigava a lavar de imediato. Animais de alto porte desde o olongo, ao nunce, á palanca em especial a palanca negra que era espécie protegida e pouco vista noutro lado, á pacaça, ao hipopótamo e descendo depois para os mais pequenos, o coelho, a lebre, e uma espécie de porquinho, cujo nome não me ocorre e que ás vezes pecava pela ousadia de ser curioso, até ás nuvens de rolas bravas que chegavam a ofuscar os céus quando voavam em bando, de tudo havia naquela terra... O palmar estendia-se como já o disse, por cerca de 20 kilómetros ininterruptos só numa direcção e um pouco menos numa outra isto chamadas em língua local Candumbo e Tar assim o nome das dependências que formavam a fazenda, já que o que no café se chamava de Roças, em palmar eram Fazendas. E o que alimentava esta riqueza? Nada mais que as águas de dois rios: O Longa para Candumbo e o Nhia para o Tar que na sua descida ao unirem-se formavam um único a que se chamou Long-anhia ou Longanhia e que alimentava não só o chão do restante palmar como todo o abastecimento de casas, fábrica e restantes usos de irrigação. Para jusante deste belo rio, a uns 20 quilómetros situava-se o Posto Administrativo a que pertencíamos, Capôlo, aonde só nos poderiam levar algumas picadas sem sinalização ou o barco, rio abaixo. Viviam aqui connosco, a duzentos e mais quilómetros de distancia de qualquer meio mais povoado, nada mais que um casal meu vizinho recém casados, mais distante embora próximo três solteirões, o Sr. Brito encarregado de tudo, o Sr. Barbosa, encarregado da Fábrica e o pequeno homem da escrita e das comunicações cujo nome muito me esforcei por lembrar sem o conseguir. O snr Pereira era o nosso vizinho próximo e era o Encarregado dos trabalhadores em geral. O hospital distava de minha casa uns cem metros e dispunha já de internamento, sala de consultas, depósito de medicamentos, sala de esterilização que me lembre. Separada por um espaço térreo situava-se a zona das cozinhas, salas de lavabos já com chuveiros e tudo servia de zona de lazer e “sala” de estar para os doentes e famílias pois estas eram sempre suas acompanhantes e assistentes, quer mulheres, quer filhos. O laser baseava-se em conversas e jogos, dos homens, onde era muito usado uma espécie de gamão com pedrinhas e buraquinhos na terra, e que dava para horas e horas de entretém, acompanhado de umas cigarradas e ou cachimbadas do tabaco em estado virgem colhido na chitaca[1] de cada um ou do vizinho. Uma coisa que sempre me impressionou é que os nativos da mesma etnia principalmente, tudo dividiam do que tinham á excepção do trabalho. Os viajantes e se faziam grandes caminhadas teriam sempre onde ficar e comer na passagem. A grande maioria dos trabalhadores eram Bailundos, naturais de uma região mais ao sul de Angola e eram sociáveis, alegres e com eles íamos aprendendo a linguagem nativa chegando eu mesmo a dispensar intérprete em conversas menos profundas sobretudo no que se relacionava com saúde. Todo o trabalho era iniciado mais ou menos com o nascer do sol pois que este astro ali fazia queimar na hora do zénite não se ensaiando nada par nos dar temperaturas entre os 40 e 50 graus centígrados e por isso chegávamos a levantar pelas cinco da manhã. Claro que isto poderá parecer um exagero ou de difícil aceitação mas não, porque o deitar era cedo por falta de ocupação e serviço acabado partia-se para outro dia. Beneficiava sobretudo os trabalhadores rurais pois que acabavam a sua empreitada pela hora do almoço. Nós á tardinha voltávamos ao trabalho. Concordava com esta prática. A assistência na saúde era completamente gratuita quer para trabalhadores, quer para familiares ascendentes ou descendentes e colaterais mas não se negava a qualquer outro necessitado. A luz do dia estendia-se desde as 5 horas até ás 9 ou 10 horas da noite sempre bem esplendorosa. De- Augusto Rebola AVISO - Todos os escritos deste autor estão registados e protegidos pelo o IGAC |
Clica no Play e sintoniza a nossa RádioAutorCrónicas Da C.A.D.A. ,é um folhetim que conta histórias veridicas de Cadaences e amigos das nossas páginas no FB e aqui do nosso Blog no Site da Comunidade. "Crónicas da C.A.D.A."
|