Porto Amboím Primeiras Férias Era pelo final do ano de 1960 e ainda permanecia ao serviço da Companhia Angolana de Agricultura, uma enorme empresa dedicada á exploração de café e palmar. Tinha já cerca de um ano de trabalho e eis que me surge a dádiva bem merecida de uns dias de férias, creio que oito só. Porto Amboím era uma Vila á beira-mar por onde se escoava creio que todo o produto daquela companhia, e de muitas outras existentes na Gabela, pelos barcos de grande porte que ali paravam. Eu digo paravam na vez de acostavam porque não havia Porto acostável para aqueles cargueiros e então os barcos de menor porte faziam a transferência de terra para os cargueiros através de uma ponta de porto ali existente. A Boa Entrada distava desta Vila creio que 80 quilómetros. A viagem poderia fazer-se em camioneta de carga ou de comboio. Éramos muito novos tanto em idade como em estadia em Angola, acabávamos de ter o primeiro rebento, a Fátima nascida em Agosto e optámos pelo comboio para a viajem. O comboio era tão pequenino a meus olhos que mais parecia um brinquedo grande, já que filho e familiar de ferroviários estava habituado a vê-los em grande escala e com uma estrada muito mais larga e aquele até essa tinha reduzida. Ah, mas que sensação ao descer aqueles montes da Gabela a que chamávamos os Morros da Gabela em linha muito descendente e sinuosa para depois entrarmos numa planície de vegetação muito baixa e seca, a anhara, onde a vista se espraiava tranquila e onde uma miragem desértica nos dava logo a sensação de ao fundo vermos mar. Não era, porém, mas uma miragem apenas. E para quem há muitos meses só via café e palmeiras foi uma sensação, que parece ainda hoje estar comigo, de leveza, liberdade, contentamento. Mas a maior sensação foi a de ver o comboiozinho largando fumaças e já sem grande esforço ir percorrendo aquela extensão de terra plana e soltando de vez em quando um apito estridente como que a dar sinais de presença e contentamento. A certas altura o maquinista puxa do freio e abranda, puxa do apito e dá interrompidos assobios que estranhei. Levantei-me, fui ter com ele, pois quase teve de parar, que de cima da sua máquina me deixou apreciar uma maravilha inacreditável - alguns animais em manada, pais e filhos, atravessavam sem grande pressa nem temor a estradinha do comboio. Eram segundo ele algumas gazelas e mais adiante nunces que são algo parecidos mas de maior porte que conduziam as suas crias daí a não pressa que levavam. Disse-me o Senhor Maquinista ser um cenário muito frequente, daí ter de vir sempre de atenção redobrada apesar da vista ampla que ali desfrutava. Fiquei assombrado não só pela vista dos animais como do respeito que infundiam de preservação. Belo exemplo… Chegámos a Porto Amboím, de filha ao colo, uma malita ou duas e assentámos numas pequenas divisões junto aos armazéns que a empresa nos disponibilizou gratuitamente. Logo notámos que aquela Vila era dotada de um grande movimento comercial pois por ali também saíam o algodão, o sisal e outros produtos. O sol iluminava com benevolência tudo o que a nossa vista alcançava e em calor então superava o já suportado por nós e o suor escorria e ensopava a nossa parca roupa. Mal dormida a primeira noite embora mais pelo calor do que pelo que o nosso rebento nos incomodou, partimos no dia seguinte á procura de comida e ao reconhecimento do que haveria para passarmos o tempo. Além da bela e quente praia. pouco mais havia. Então á noite passeavam-se nas ruas enormes caranguejos que da praia se dirigiam para algum jardim ou relvado acessível onde petiscavam a relva. Eram chamados os caranguejos da horta e não eram comestíveis, talvez pelo sabor e pela abundância na pesca porque pelo volume eram de desejar. Ora mais umas passadas e eis-nos próximo do terminal de carga suficientemente iluminado para se ver um espectáculo inesquecível. Os peixes atraídos pela luz, volteavam a velocidades espectaculares mostrando o seu peito prateado a quem observava e os milhares de caranguejos que se entretinham a fugir dos nossos ruídos e sombras escavando buracos na areia onde se escondiam e voltavam a parecer a velocidades incríveis. Mundo maravilhoso aquele e tão simples. E eram estas simplicidades que nos deliciavam e atraíam em Angola. Terra grande com pequenas maravilhas… Assim renascíamos com pouco mais do que isto e a companhia dum nosso rádio e gira-discos portátil de som duvidoso mas que nesse tempo nos parecia de alta resolução e com apenas meia dúzia de discos de 45 rotações para ouvir. Eram os únicos parceiros diários que tínhamos certos. Era tempo mesmo para repousar. Eram férias… De- Augusto Rebola "Crónicas da CADA" Esta foi a 6 ª Edição. NGA SAKIRILA KINENE!! MBOIM !! :) AVISO-Estes escritos estão registados e protegidos pelo IGAC |
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