A VIDA NA LIBATA A noite estava quente A lua cheia iluminava Bem de frente Os corpos transpirados De homens, mulheres e crianças A volta da fogueira A aldeia dançava e cantava Ao ulular das hienas ouvidos de longe, Misturavam-se os cantares das gentes, Os ritmos dos chocalhos e batuques, Os sons de marimbas e quissanjes Deitada num monte de rícino, Um moleque De andar desajeitado Acerca-se. Dá-me um toque Esmola uma guloseima Afago-lhe o rosto Coloco um bombom na palma Da mão, dá um sorriso pra foto Todo feliz o petiz Foge pulando e batendo palmas Bem alta já ia a lua Quando a libata silenciou A arder lenta e nua Só a fogueira ficou A afugentar as feras E armadas com paus e catanas As sentinelas, Bem junto às canas, Com bonés de palas Que se rendiam por ela Acordei, já o sol brilhava Quente a terra beijava Cedo o pessoal bazava As mulheres pros arimos, Outras pro açude ou pra quitanda A criançada com sacolas pra escola De boleia na monanga, Ou a bute Ainda pedalando binas Os homens curtiam pra cidade Ou então para lá salar Perdida, desconfortada Via os que partiam E olhava os que ficavam Mesmo no centro, o jango! Marco histórico, Ponto de encontro Entre o passado e o presente Onde o Soma, soma assuntos, Opera problemas E reduze-os em produtos Aqui, os cotas se reúnem Matam o tempo a falar política Os putos ouvem A história heróica De reis e rainhas, De príncipes e princesas, De Caçadores e guerreiros Mitos, superstições e fábulas Assim como adivinhas Do antigamente na vida De um lado o velho embondeiro Pesado de múcuas todo altaneiro Que vê-lo até era um regalo. Zunzunavam marimbondos E cantava um velho enriçado galo. À sua sombra um artesão talhava Pedaços de madeira tacula Na parlenga com o curibota. Lá estava também o quimbanda Com a sua negra magia Uma galinha preta trazia, Pendurado, ossos de dumba E pelos de rabo de jamba. Na soleira de uma cubata O século sentado numa quibaca Com o cachimbo a fazer fumaça. Sentadas numa esteira As mulheres mais cotas da aldeia Os cabelos entrançavam Os piolhos catavam E um fogareiro de carvão Com uma panela de barro Fervendo água para o pirão, Umas assadas de caboenhas E um garoto a brincar com um pião, As garinas a partir milho no pilão. Como não podiam faltar Os porcos, os patos marrecos, As cabras, as galinhas pretas E ao longe o cuco a cantar A tardinha ao sol poente Regressavam carregadinhas Cansadas mas contentes Às costas com os seus nenés, Davam agradecimentos À cabeça latas cheias de água, Qualos cheios de mantimentos E trochas de roupa lavada. Eles chegavam com mucandas Mas os lábios sorridentes À noite depois do manjar De novo se vai brincar Até que alta fique a lua cheia Em sombras e em silêncio Fica adormecida toda aldeia Cercada por viçapas, Bananeiras e palmeiras E guardada por pirilampos Que até pareciam estrelas Finalmente sós…! O jango e o embondeiro Em silêncio Contam os segredos e os mistérios Da embala E a fogueira, a chama Que aquece e ilumina a alma Da libata Por Carla Couceiro 11/05/2013 Escritos protegidos pelo IGAC ANGOLA MINHA EMBALA
À uma terra distante Elevo meus pensamentos, Entre as palmas de coqueiros Carregados de cocos, Dançam ao som de uma melodia De ondas que batem E rebatem numa praia Um sol místico Combinado com um vermelho fogo E amarelo dourado Brilha intensamente Sobre um mar de águas prateadas E uma areia grossa amarelada Nesta nostalgia Cambaleante e distante Vejo uma terra a florescer Angola minha embala Terra que me viu nascer Que meu berço ainda embala Cheia de encantoas e belezas naturais Ah! Saudades! Daquele Cheiro do café vermelho cereja Dos campos brancos de flores de algodão Do amarelo de girassóis girando ao sol Do verde dos milheirais em botão Da batata-doce e da mandioca Dos saborosos frutos exóticos Saudades de sentir o toque Da savana do parque da Quiçama Com os seus elefantes, pacaças, girafas, Avestruzes, antílopes, gungas e zebras, Das vivas chanas do leste, Do deserto do Namibe Com sua weliwítschia mirabilis, Do verde dos capinzais. audades de ouvir O rufiar do esvoaçar dos flamingos, De descansar à sombra da mulemba, De inspirar e expirar O aroma das acácias rubras, De colher lindas rosas de porcelana. Ainda os matrindindes, o ruído das cigarras, Ainda a história valorosa de reis e rainhas. O meu saudoso e velho embondeiro Com quem conversava Quando estudava Sentada a sua sombra Olhando as múcuas penduradas Angola minha embala Que ainda meu berço embala Ao som de músicas de cabaças, Do rufar de batuques e bombos, Das marimbas, quissanjes e chocalhos De cantos e recantos de vozes africanas, Dos contos e lendas milenares Onde o Homem é aprendiz e mestre Angola Que com as mãos semeias a terra E constróis mundos Em metamorfose geras futuro És minha identidade Teu povo, minha história Tua cultura, minha memória Angola minha embala Ainda meu berço embala Por Carla Couceiro 26/05/2013 Escritos protegidos pelo IGAC |
AutorAs " Crónicas De Fim De Semana",são publicações feitas aos fins de semana, de Belos Poemas textos que filhos da terra nos enviam.... Crónicas Fim de Semana
Cliquem no titulo da Crónica que Desejarem ler ,ou pelo nº da sua Edição que ela abrirá e Deliciem-se ... Crónicas Fim de Semana
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